O SIGNIFICADO GEOPOLÍTICO DA PROJEÇÃO DE MERCATOR
Projeção de Mercator.
A projeção de Mercator é um tipo de projeção cartográfica cilíndrica desenvolvida pelo cartógrafo flamengo Gerardus Mercator em 1569. Sua principal característica é que as linhas de latitude e longitude aparecem como retas perpendiculares, o que facilita a navegação marítima, pois os ângulos entre os pontos são preservados. No entanto, isso resulta em distorções significativas nas áreas das massas terrestres, que se tornam mais exageradas à medida que se aproximam dos polos.
Distorções da Projeção de Mercator:
1. Tamanho exagerado das regiões polares: Países e continentes próximos aos polos, como a Groenlândia, a Rússia, e o Canadá, aparecem muito maiores do que realmente são. A Groenlândia, por exemplo, parece ter um tamanho semelhante ao da África, quando, na realidade, é cerca de 14 vezes menor.
2. Subestimação das áreas próximas ao Equador: Regiões como a África, América Latina e Sudeste Asiático são significativamente diminuídas em relação à sua real extensão territorial. A África, por exemplo, é o segundo maior continente, mas na projeção de Mercator, ela parece menor do que a Europa, que tem uma área muito menor.
Significado geopolítico
A projeção de Mercator teve um impacto geopolítico e até mesmo ideológico ao longo dos séculos. Algumas das suas implicações incluem:
1. Eurocentrismo: A Europa aparece no centro do mapa e também parece muito maior em comparação com regiões da África e da América Latina. Essa representação reforçou a visão eurocêntrica do mundo, em que a Europa (e também a América do Norte) eram percebidas como mais dominantes, não só politicamente, mas também em termos de tamanho e importância geográfica. Essa distorção pode ser vista como uma forma de justificar a expansão colonial e a dominação cultural.
2. Imperialismo: Durante os séculos de colonização europeia, mapas com a projeção de Mercator ajudaram a consolidar uma visão de mundo em que os países colonizadores, situados no Norte global, eram representados como maiores e, implicitamente, mais poderosos. As áreas colonizadas, geralmente localizadas no Sul global, apareciam menores, reforçando uma percepção de inferioridade e subordinação.
3. Manutenção do status quo: A contínua popularidade da projeção de Mercator em escolas e instituições também foi criticada por perpetuar uma visão desigual do mundo. O mapa distorcido pode influenciar a forma como as pessoas entendem a importância e o poder relativo das diferentes regiões do globo.
Outras projeções, como a projeção de Gall-Peters, foram propostas como alternativas para corrigir essas distorções, dando uma representação mais proporcional das áreas e, consequentemente, oferecendo uma visão mais equitativa do mundo.
Apesar das críticas sobre as distorções e implicações ideológicas da projeção de Mercator, ela continua sendo amplamente utilizada, especialmente em materiais didáticos e mapas mundiais em escolas. Sua aplicação moderna está ligada a alguns fatores práticos, históricos e pedagógicos que explicam por que ainda é uma das projeções mais difundidas.
Aplicação Atual da Projeção de Mercator:
1. Navegação e uso técnico: A principal razão pela qual a projeção de Mercator foi amplamente adotada desde o século XVI está relacionada à navegação. Como a projeção preserva os ângulos e as direções, os marinheiros podiam traçar rotas em linha reta entre dois pontos do mapa, algo extremamente útil para navegação marítima. Embora as tecnologias modernas, como o GPS, tenham substituído a necessidade de mapas impressos para navegação, essa projeção ainda é usada em algumas ferramentas de mapeamento digital, como o Google Maps, quando se trata de regiões de pequenas escalas ou deslocamentos locais.
2. Simplicidade de uso em mapas didáticos: Nos livros didáticos, especialmente os de geografia, a projeção de Mercator continua a ser preferida por sua simplicidade visual. A representação retangular e a fácil identificação dos pontos cardeais facilitam a leitura e interpretação de mapas por estudantes. Embora distorcida em termos de área, ela oferece uma visão clara das formas dos continentes e das direções entre eles, o que pode ser pedagógico para o ensino de noções básicas de geografia.
3. Familiaridade cultural: Ao longo dos séculos, a projeção de Mercator se consolidou como o "modelo padrão" de como as pessoas percebem o mundo. Essa familiaridade cultural torna sua substituição por outras projeções um desafio. Muitos mapas que usamos cotidianamente, seja em materiais impressos ou na internet, seguem o estilo de Mercator, e isso cria uma resistência natural à adoção de projeções mais precisas em termos de área, como a projeção de Gall-Peters.
Problemas com a Continuidade de seu Uso em Livros Didáticos:
Embora tenha aplicações práticas, o uso contínuo da projeção de Mercator em livros didáticos é problemático, principalmente por perpetuar visões distorcidas do tamanho e da importância de diferentes regiões do mundo. Essa distorção afeta a maneira como os estudantes entendem a geopolítica global e as relações de poder. Por exemplo, ao fazer com que países do Norte global, como os Estados Unidos, Canadá e Rússia, pareçam significativamente maiores do que na realidade são, a projeção pode reforçar percepções errôneas sobre a dominância dessas nações. Por outro lado, grandes territórios do Sul global, como a África e a América Latina, parecem menores e menos significativos.
Há um movimento crescente entre educadores e geógrafos para substituir a projeção de Mercator por alternativas mais equitativas e representativas, como a projeção de Gall-Peters, que preserva a proporção correta das áreas de terra. Embora essa mudança enfrente resistência, principalmente devido ao hábito e à familiaridade cultural com Mercator, ela pode ajudar a corrigir visões desiguais sobre o mundo, proporcionando aos estudantes uma compreensão mais precisa da geografia global.
Em resumo, a projeção de Mercator ainda é amplamente utilizada devido à sua funcionalidade histórica e simplicidade para certos propósitos, mas sua aplicação em contextos educacionais precisa ser repensada para evitar a perpetuação de uma visão distorcida e eurocêntrica do mundo.
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